"Christian, nós queremos uma logomarca elegante, algo que sintetize a casa. Sem excessos, algo que marque visualmente o lugar e a identificação do que pretendemos..."
Assim começamos as conversas, dentro da ThesignStudio, na sala do terceiro andar da Rua Paranaguá N° 1255, em Londrina, eu, o Ricardo Guimarães e a Marisa Guimarães, lá se foram décadas.
Ficamos conversando por quase 3 horas seguidas, confabulando de tudo, menos de identidades corporativas. Ou de design.
O que sem dúvidas, denota um excelentíssimo sinal.
O que sem dúvidas, denota um excelentíssimo sinal.
Dias depois, fui à pé, até o galpão da Rua Paraíba, ver de perto a área degradada que sempre me atrai nas cidades, especialmente, as do entorno dos ramais ferroviários, deixando-me pressentir o ambiente e as sensações históricas do local.
Trilhos adentravam em vários desses galpões cafeeiros, espécies de tulhas pós-concebidas, aquela elegância intrínseca, que só a industrialização consciente e orgulhosa, consegue implementar na arquitetura funcional.
Fiquei admirado com os lanternins envidraçados, monitores mais elaborados que permitem a aeração dos grãos de outro verde ensacados, aguardando vagões, safra, alta de preços ou encomendas além-mares.
Em uma semana, agendei a volta de ambos, mãe e filho, para mais uma rodada. Sentamos lado-a-lado na enorme mesa santa-ceia, de 2.10x1.00m revestida em bagum preto.
Caneta Tinteiro à mão, rascunhei a essência do que imaginara para a logomarca do "Empório Guimarães", a que seria em breve a melhor casa noturna, num raio de 400km à partir de Londrina (slogan meu, particular e não adotado, é claro...).
"É isto...", ouvi da Marisa Guimarães.
Sei, tá, mas eu vou desenhar um...
"É isto aqui, isto que voce fez...", ouvi, sendo interrompido quase que bruscamente pela Marisa Guimarães, se é que se é possível, alguém ser "interrompido bruscamente", por alguém como a Marisa Guimarães.
Sim, eu entendi, eu vou melhorar esse design no...
"Christian, nossa logomarca é essa. Está pronta. É isso que queremos e viemos pegar de voce."
Não consegui esconder minha estarrecedora surpresa.
Eu estava diante do perfil de cliente mais raro na face do Planeta Terra:
Eu estava diante do perfil de cliente mais raro na face do Planeta Terra:
O cliente de fato realista do tal design gráfico,
que contrata quem entende de design gráfico,
por que o cliente que contrata o design grafico,
não entende de design grafico
e quer alguém que entenda
e alguém que faça
design grafico.
E, que apesar disto tudo, ainda SABE O VALOR DO BOM DESIGN.
Não precisei de subterfúgios para explicar o que queria, com a logomarca.
Fui entendido em um rascunho.
Está certo, meu traço É elegante, manufaturado e até mesmo a minha caligrafia, é um projeto gráfico, em sí (inclusive, construí a fonte STEAGALL.TTF com ela).
Fui entendido em um rascunho.
Está certo, meu traço É elegante, manufaturado e até mesmo a minha caligrafia, é um projeto gráfico, em sí (inclusive, construí a fonte STEAGALL.TTF com ela).
Mas a Marisa Guimarães foi clara:
"- Prepare isto, com alguma cor. Seja conciso, vai ficar ótima!", num sorriso, contagiantemente entusiasmada, como lhe é característico.
"- Prepare isto, com alguma cor. Seja conciso, vai ficar ótima!", num sorriso, contagiantemente entusiasmada, como lhe é característico.
Peguei o papel cartão Fosco Opaque Triplex 210G medindo 100mm x 100mm, montado como um bloco de rascunhos especialmente prá mim feito pela Midiograf com reciclagem de material de descarte da off-set Gutenberg.
Pus esse cartão no vidro do gigantesco scanner HP profissional, o único do Norte do Paraná na época, considerando que a Thesign, foi o primeiro estúdio com CGC (hoje diz-se "CNPJ") implantado no Norte do Paraná.
Pus esse cartão no vidro do gigantesco scanner HP profissional, o único do Norte do Paraná na época, considerando que a Thesign, foi o primeiro estúdio com CGC (hoje diz-se "CNPJ") implantado no Norte do Paraná.
Dava prá ver até onde a ponta fluída da caneta tinteiro Parker Vector pousou alguns nanossegundos à mais, concentrando a carga da tinta nankin Montblanc Royal Blue, ao final das letras "M" de "EMPÓRIO" e do "S" final, em "GUIMARÃES".
Dalí, para o estudo cromatico, foram mais algumas horas e, em 72h fui almoçar com eles, para apresentar-lhes minha concepção final, junto com o arquiteto italiano que os atendera na reciclagem do galpão, o qual pirou em meu relógio.
Dalí menos de uma semana, uniformes, bandanas, aventais, cartões, fachadas, luminosos, neons, backs e front-lights, lugares (aquela toalhinha de papel na mesa, erroneamente chamada de "jogo americano") e adesivos os mais variados, ostentavam a transada logomarca completa.
A internet ainda estava em périodos embrionários de como hoje a conhecemos, então, sua circulação e reprodução visual, foi eminentememte física, tangível, analógica.
Depois, a logomarca começou a ser beneficicada pela sua potente (e conscientemente intencional) pregnância:
Não passaram nem mesmo 10 meses, o icone gráfico parcial que a identificava, o lanternim sintetizado da tulha de cobertura do galpão cafeeiro, passou a frequentar várias mídias, de camisetas à viaturas, de impressos à posters, de convites à adesivos.
O stand d´art original (estandarte...), completo, evolui naturalmente e o ícone único se sobressai, com elegância, originalidade e pertinência, rumo à consolidação pré-meditada.
Porém...
Em uma desastrosíssima reforma grafica...
... a minha logomarca original, hoje "vintage", fora tratada como uma espécie de poltrona principal na sala de visitas, cujo tecido necessitaria de novo revestimento...
A resulta, foi essa daí de cima.
Uma camisa-de-força, engessando as características espontâneas dentro de uma moldura feita na régua e no esquadro, um frame mais propício à uma lojinha de quadros ou à uma soldadora de esquadrias, do que uma elegante, sofisticada e agitada casa noturna.
Talvez, a invasão do "pretinho básico" (só entendi esse tôsco binômio do mundo féchom, por demais recentemente, algo como "coringa"...) tenha se confirmado para tudo um pouco e, por que não?, no design gráfico.
Curiosamente... a atual "nova" logomarca do Empório Guimarães, é imediatamente copiada por... SOLDADORES DE ESQUADRIAS!
Enquanto a logomarca "vintage", por ser autóctone, desestimula a cópia ou a apropriação indébita.
Exceto, se voce for uma casa noturna, instalada em uma tulha cafeeira da década de 40, em uma próspera cidade urbana, espécie de "alinhamento de planetas" um tanto quanto raro de se observar por aí...
O mau gosto, impera. Mas o que me estarreceu, de verdade, foi o slogan do Empório dos Metais, presumidamente, o apropriador indébito da "nova" marca do Empório (notou que ambos levam o termo EMPÓRIO?):
Agora, quer ficar MESMO estarrecido?
Anastácia fez um comment hoje (22/FEV/2Ol2) me alertando de mais uma grandiosa "criação" na área do Design Gráfico, dá uma conferida "nisto" aqui:
A brilhante e original logomarca acima, trata-se do Empório Salesópolis (Empório Salé, prôs mais chegados), inaugurado hoje, na cidade mesmo nome, que ainda não sei onde fica. Salesópolis também não tem não tem designer ou não tem bom senso ? A gente pode enviar uns 5OKg prá lá, se precisarem... OU SE QUISEREM, é claro!
PS: O mais engraçado de toda esta pequenina história ...
Foi quando da, digamos, "implantação" da "nova" logomarca, a em P&B elaborada em Serralhería Istáile....
Recebi vários comentários irados (VÀRIOS), levei broncas diversas, ouvi muchochos desanimados ...
Tive até mesmo que receber telefonemas em meu estúdio, de pessoas que sabiam ser a marca original de minha autoriae que pediam satsifações!
Todos, sem excessão alguma, me questionando da "MANCADA GRAVE" de eu re-desenhar a "bela marca anterior, a marca original do Empório Guimarães"...
Não consegui explicar, para a imensa maioria, que não fui o responsável pela "renovação"...
E que o cliente final, pode fazer o que quiser com uma marca que lhe pertença, INCLUSIVE DAR MANCADAS GRAVES.
Mas dessa ocorrência, gostei da demonstração de algo muito "interessante":
As pessoas andam, cada vez mais, compreendendo melhor os conceitos de
Autoría e de Propriedade Intelectual.
Ainda que não a pratiquem com tanta ênfase, como é praxis nos paises mais desenvolvidos intelectual, moral, social e artisticamente.
E isto é, definitivamente um bom sinal.